A recuperação da economia brasileira ainda não chegou com força total ao Nordeste. Segundo oBanco Central (BC), a tendência de crescimento já aparece na região, mas não é tão consistente quanto a nacional. Prova disso é que, em 2017, a atividade econômica do País cresceu 1%. Já a nordestina teve incremento de apenas 0,5%. E isso fez com que o desemprego da região fosse o mais alto do Brasil: 13,8%. A esperança é, portanto, que a retomada se consolide ao longo deste ano. E quem pode garantir essa expansão, na visão do BC, é a produção agrícola, por conta da perspectiva de alta da cana-de-açúcar.
"O que vimos no Nordeste ao longo de 2017 foi um dinamismo menor que o das outras regiões no processo de retomada", revelou o chefe do Departamento Econômico (Depec), Tulio Maciel, que veio ao Recife ontem para divulgar o Boletim Regional do BC. É uma publicação trimestral que analisa o crescimento econômico das regiões brasileiras e mostrou que, em 2017, o Nordeste só cresceu mais que o Sudeste, que caiu 0,1%.
Segundo o BC, o resultado nordestino foi impactado pela seca e pela desaceleração da construção civil. O desempenho da indústria e o do comércio também contribuíram com o baixo crescimento de 0,5%. Afinal, a indústria se manteve estável e as vendas do comércio varejista ainda não deslancharam como em outros locais do País. E a consequência disso é uma certa demora na redução do desemprego. Para se ter uma ideia, o emprego formal apresentou um saldo positivo de 195 mil contratações no Brasil no primeiro trimestre deste ano. No Nordeste, no entanto, o saldo foi negativo em 95,6 mil demissões.
Por conta disso, Pernambuco também não conseguiu se aproximar da retomada nacional. "Ainda há oscilações na economia pernambucana. Há uma recuperação, mas ela não é tão firme quanto a brasileira", acrescentou o analista do Núcleo do Depec no Recife, Fábio Silva. Ele explicou que, apesar de alguns setores crescerem de forma acelerada no Estado - como a produção de automóveis, outros continuam caindo com força. A produção de petróleo, por exemplo, registrou queda de 10% em 2017. Por isso, uma coisa acabou compensando a outra, deixando tudo praticamente estável.
A esperança é, portanto, que as economias do Nordeste e de Pernambuco registrem taxas de crescimento mais sustentáveis. E a aposta da retomada está no setor agropecuário. "Este tende a ser um diferencial do Nordeste, porque deve ser a única região a manter o crescimento da safra este ano", disse Maciel, explicando que, apesar de favorável, a produção nacional de grãos deve ser menor este ano. "Já no Nordeste, a perspectiva é de uma alta de 4% da cana", disse o diretor do BC, contando que o produto é tão importante para a economia da região que influencia até a produção industrial: segundo o banco, 25% da indústria pernambucana está relacionada à produção de açúcar.
Presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Pernambuco (Sindaçúcar-PE), Renato Cunha confirmou que a safra 2018/2019 deve ser maior que a de 2017/2018. "Chuvas mais regulares podem favorecer plantio e lavoura. Por isso, o volume de cana pode crescer de 7% a 8%, chegando a 11,6 milhões de toneladas. É um crescimento de 1 milhão de toneladas em relação à safra anterior", disse.