Uma hora depois de ser obrigado a usar um carro de passeio para chegar ao centro de Francisco Beltrão, no Paraná, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ironizou nesta segunda-feira (26) os manifestantes que bloquearam o acesso de sua caravana à cidade.
"Fico satisfeito quando vejo esses meninos soltarem rojão. Fiz campanha em 1989, 1994 e 1998 e não tinha dinheiro para soltar rojão. Queria pedir para eles: guardem o rojão para soltar quando eu tomar posse no dia 1º de janeiro". Ao discursar, Lula voltou a criticar o uso de ovos para atingi-lo, afirmando que essa uma demonstração de descaso com os mais pobres.
O ex-presidente disse que não consegue entender o ódio estabelecido neste país. Ele afirmou também que até 2013 a gente vivia em um país onde as pessoas aprendiam a conviver democraticamente na diversidade.
Ele listou as eleições que disputou, segundo ele, sem briga. "Não viram ninguém tacar ovo. O cara que ataca deveria dar ovo para muita gente nesse estado que não tem ovo para comer. A demonstração do descaso dessa gente com o povo trabalhador é que estão jogando ovo", discursou.
No palco montado na praça central da cidade, Lula relatou ter visto duas mulheres com uma cesta cheia de ovos. "Deveriam dar para a empregada dela o ovo para jantar hoje à noite".
As duas mulheres, de cerca de 50 anos, a quem Lula se referiu, o aguardavam na beira da estrada na cidade de Marmeleiro, a caminho de Francisco Beltrão. À passagem da caravana, elas correram em direção à pista para lançar os ovos. Pouco acertaram.
Padrão
Esses protestos isolados destoam do padrão evidenciado na fase sulista da caravana do ex-presidente, em que jovens brancos de classe média usam carros, caminhonetes e máquinas agrícolas para obstruir o caminho da caravana.
Em menor número, mulheres de cerca de 50 anos engrossam a manifestação. São grupos de cerca de 50 pessoas, compostos, em sua maioria, por simpatizantes do deputado Jair Bolsonaro (PSL). Sua estratégia é definida em troca de mensagens pelo WhatsApp. Conhecedores das regiões por onde a caravana passa, bloqueiam vias secundárias.
Altos e fortes, são capazes de subir o tom de voz com os policiais. No Rio Grande do Sul, chegaram a xingar os soldados da Brigada Militar. Carregam cartazes com xingamentos. No Rio Grande do Sul, deram início ao arremesso de ovos e à queima de pneus para o ataque à caravana.
Usam carros de som, trio elétricos e rojões para abafar o discurso do ex-presidente.
Nos cartazes, xingamentos e a torcida para que Lula seja preso. Na camiseta, as cores da bandeira nacional ou mensagens de apoio a Bolsonaro.
Chamam jornalistas de comunistas e desafiam os seguranças da caravana. No Rio Grande do Sul, um pixuleco gigante entre as grades de uma cela percorreu as cidades por onde Lula andou, um sinal de que lá o movimento foi previamente organizado.
Os métodos se espalharam pelos outros estados, sendo menos organizado em Santa Catarina e no primeiro dia do Paraná. Há, pelo menos, três categorias de manifestantes: apoiadores de Bolsonaro, integrantes do MBL e pais de família que veem no MST uma organização criminosa. Como em torcidas organizadas, eles esperam os atos acabarem para furar pneus e cercar participantes de atos pró-Lula.